sábado, 3 de novembro de 2007

O espelho


Foi como sair do coma. Coma? Coma! Um estado de coma que deixava as pessoas à volta angustiados. "Não faça nenhuma besteira!" eram as recomendações. Ele fez! Teve seus sonhos reciclados, pasteurizados e depois restaurados. Foi a fundo para saber até onde ia. Estava deixando o passado para trás como a única forma de progredir. O seu futuro estava se encaminhando. Os fantasmas não lhe assustavam mais e o brilho eterno da tal mente sem lembranças estava intacto! Era uma dor ter que despedir-se assim, mas como todo ser humano precisa de algo para se completar, ele não podia esperar a vida toda por alguém que não se encontrava nos jornais e então decidiu que iria fazer a sua vida voltar ao normal. Que normal? O que era normal pra ele se já conhecia uma série de anormalidades e achava aquilo tudo normal? Ele precisava de coisas incríveis, pessoas incríveis que domassem o seu gênio forte. Ele precisava respirar novos ares. Ares que contaminam a sua própria mente. Ele estava apaixonado, não só pela vida, mas alguma coisa lhe atraía muito alí. Ao se olhar no espelho, viu sua imagem e semelhança. Viu o quão poderia ser gentil e amável, o quão poderia ser dedicado e amigo, o quão poderia ser compreensivo e amado! Era apenas uma imagem refletida e ele já via tudo. Podia ver tudo além daquele vidro que os separava aparentemente. O outro espelho foi guardado no coração, enquanto esse poderia ser levado até onde desse, ou então, pela vida toda, quem sabe? O seu espelho seria o seu fiel companheiro. Só o espelho podia ver além do que as outras pessoas 'normais' não viam. O espelho do garoto era seu contato fechado, onde não saíam o segredo entre os dois. Ao contrário de outros espelhos, ele jurou não deixar seu novo espelho embaçar ou quebrar-se com facilidade. Ele iria cuidar do espelho como se fosse seu único bem. Tarefa árdua, difícil, complicada! Quem iria garantir que atrás daquele espelho não haveria um mundo em que ele iria se apaixonar e talvez não quisesse voltar pra casa? O garoto poderia ser o bem e o mau, ou os dois juntos, mas preferia sempre pela parte mais dífícil, talvez pelo desafio, ou talvez pela derrota, que ao sofrer, seria mais aceita. Esse era o mal do garoto. Pensava sempre na derrota como se tudo fosse derrotas. Tolo! E como num conto de fadas, ele seria atento e fiel a aquele espelho que representava pra ele muito mais do que uma imagem. Narciso? Não, ele percebeu que existem sim, pessoas iguais a ele.

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