sábado, 13 de junho de 2009

A felicidade sem limite


Num belo dia de janeiro, fui acordado por uma voz grave puxando meu lençol e dizendo: "Nasceu!"
Eu mal conseguia abrir meus olhos e mais mal ainda sabia do que meu pai falava. Levantei-me, enxaguei meu rosto e olhos cheios de remelas e finalmente procurei saber do que se tratava. Eram os cachorrinhos que haviam nascidos. Os pais eram dois Foxsters metidos e mimados que eram tratados com sorvete no calor. Então, eu fui ver os filhotinhos daquela criação. Eram verdadeiras bolinhas que se mexiam. Eles nem tinham abertos os olhos ainda. Ainda não tinham visto esse mundo colorido e medonho. Pelo que se via, eram três filhotes, todos pretinhos e famintos, sugando o leite da mãe. Mas uma olhada mais de perto solucionava o problema. Eram quatro cachorrinhos, um deles estava escondido atrás da mãe. Parecia ser o mais sapeca deles. Era bem branquinho com manchinhas marrons. Ele corria desesperadamente, como se o mundo fosse acabar, mas não tinha equilíbrio nenhum e caía a cada passinho. Os Fox são raça de cachorro bem esperta e pequena. Os cães não passam de 50 centímetros de comprimento.
Então, com todo aquele brilho nos olhos, eu voltei para casa pensando no meu novo amigo. Eu não conseguia dormir pensando naqueles cachorrinhos. Um mais bonitinho e atrapalhado que o outro. O Fox branco com manchinhas marrons mexeu mutio comigo. Eu não conseguia parar de pensar nele um minuto se quer. Contava empolgado dos cachorros que eu vi e como eles eram. Não podia ser outro, se não aquele.
Um mês mais tarde eu completaria 11 anos e era hora de eu ganhar um cachorro de verdade. Um cachorro que eu não tivesse medo e me visse crescer, assim como eu o veria. Até que chegou o grande dia. A família Resende ganharia mais um membro. Quando eu cheguei na casa de seu antigo criador, estava vazia. Nenhum outro animalzinho estava por perto. Só uma caixinha que andava desengonçada. Por debaixo da caixinha estava ele, como ele engordou! Estava uma bolinha e me cheirava compulsivamente. Parecia estar reconhecendo o terreno! Peguei-o no colo e o levantei. Sempre quis fazer igual ao filme do Rei Leão, que até então, era meu ídolo, desde criança. Então ele veio comigo. Chorava muito nas primeiras noites. Aquele cachorro que de dia era um amor, a noite era o desespero da vizinhança. Desde pequeno, Bethoven, ah sim, Bethoven era o nome do cãozinho, que aliás, não era muito inovador, mas eu não gostava de Totó, era muito esperto. Corria muito quando a campainha tocava para ser o primeiro a atender o portão. Parecia um perfeito recepcionista, se não fosse seu temperamento agressivo e confuso. Bethoven nunca gostou de crianças. É sem dúvida alguma, um cachorro meio racista! Eu sempre me lembrarei dos dias em que as orelhas dele começaram a se inclinar. Quando filhote, suas orelhas eram caídas, mas o filhotinho estava crescendo e tomando proporções maiores e as orelhas, estavam eretas. Lembro-me bem em uma de seus banhos, quando ele tomou o remédio de carrapatos inteirinho. Não deixou sobrar nada. Passou 7 dias doente, vomitava muito e ficava cabisbaixo. Eu não queria acreditar que ele não resistiria ao veneno. Mas ele resistiu bravamente. Lutou com toda a vida que tinha para se manter vivo e conseguiu. Tomava regularmente os remédios desintoxicantes e se mostrava muito feliz em estar recuperado.
Ele não espera que eu lhe dê rações caras e algum lugar para dormir. O cãozinho come qualquer coisa, literalmente.
Suas feições de súplica ao pedir comida é indescritível. Sem contar que ele não come nada, ele devora! Bethoven gosta mesmo é de dormir em panos largados pelo chão, principalmente tapetes. Minha mãe não agrada muito da ideia. Desde pequeno ele foi acostumado que não poderia ficar muito tempo no tapete. Quando é pego no flagra, ele se vira de barriga para cima e desarma quem quer que esteja furioso com ele. Sem contar o sofá que, é seu móvel preferido. Ele se arrasta e parece se coçar. Se Bethoven fosse humano, com certeza perderia (ou ganharia!) sua vida toda brincando. Seria o típico palhacinho da turma. Felizmente, ele nasceu para ser livre e se não fosse, seria triste. Bethoven não nasceu para outra coisa a não ser cachorro. Ele não mede seus atos e isso faz dele muito especial. Ele aprendeu a fazer suas necessidades na caixinha e nunca reclamou disso, nem se opôs. Ele se lava no banheiro, com a água parada que ficou no box. Engraçado, pois ele não gosta de banho. Ele faz o que quiser da vida e mal dorme como se alguém fosse chegar a qualquer hora e ele teria o dever de recebê-lo. Ele late de costas, quando está em casa e rosna para mim toda vez que tento pegar sua bolinha, que aliás, eu mesmo dei a ele. Assim como nós o privamos de entrar em nossos quartos, ele nos priva de pegar sua bolinha.
Bethoven é um cão faminto por alegria e por brincadeiras. Ele é faminto por felicidade e faminto pela vida. Tudo o que ele quer é atenção. Tudo o que ele quer é um pouquinho do meu dia. Ele se faz especial só por ser do jeito que é.

Inspirado no romance de GROGAN, John. Marley & eu.

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